sexta-feira, 27 de maio de 2016

Conto 1. Victorious e a batalha contra um ‘Deus’ na terra



Conto 1

Victorious e a batalha contra um Deus na terra

O mar – Mediterrâneo - revolto, apunhalava a proa do navio. As ondas eram vencidas pela invenção do homem, mas não vendiam fácil a derrota. Enfurecidas pela visita do homem terreno, insistiam em golpear o navio, colidindo conosco, feito um búfalo de 800 quilos, da Savana, na África. Eu não olhava para o mar, só ‘via’ os muros de Babilônia, mesmo ainda estando à quilômetros. Meu coração, literalmente, pulsava em minhas mãos, dando o sinal para minha espada – é chegada a hora, Superbia Avaritia, darei a você o sangue daquele que se põe no lugar do altíssimo, você se banhará com o fluído cor de escarlate do que se diz ‘Rei dos Reis’, você dormirá nas entranhas de Nabucodonosor -.

O navio mal atracou e flechas cobriram o céu, fizeram do dia, noite. E como um casco, nossos escudos, juntos, nos protegeram, e quando parou de chover pontas de ferro fundido, ‘voei’ feito um águia e com uma de suas flechas, me apresentei, cravando-a no crânio de um babilônio arrogante.

Após devorarmos o primeiro exercito babilônio, que nos recepcionava à quilômetros do palácio de ‘vossa majestade’, partimos ao encontro de uma nova embarcação, agora, desceríamos pelas águas do Rio Eufrates, este nos levaria até os muros daqueles que dormiam o sono da glória...

O capitão e os outros soldados escolheram por atacar à noite, era óbvio que optariam pela ‘zona de conforto’, mas não Victorious, eu não sou um salteador para atacar ao anoitecer. Por isso deixei que afogassem em seu próprio sangue, pois eu queria afrontar a glória de Nabucodonosor à luz do dia, queimar seu trono, tirar-lhe a vida diante os olhos de seus bajuladores, os babilônios temerão a minha espada, babilônia ‘a grande’ se curvará aos meus pés, bem onde se encontrará a cabeça do seu ‘Deus Rei’, o homem que me tirou tudo, terá no seu fim, um espetáculo público!

O sol não mais dormia quando me apresentei ao palco do meu destino. O cheiro de sangue era agradável aos meus sentidos, de guerreiro. Escravos fugiam... Sentinelas, arqueiros, uns em combate, outros, já combatidos... Ao meu redor tudo ‘parou’ por um instante de tempo, se tornando um cenário totalmente inanimado, enquanto eu fitava os olhos no palácio, - ele está lá, posso senti-lo, sinto também que estou sendo observado, isso é bom, realmente, muito bom!

Entre cravar a espada, golpear com as mãos, escudo e flechas, cheguei ao topo da ‘fortaleza’, onde sinais dos sete pecados capitais eram vistos a todo o instante... Mulheres nuas fugiam... objetos supérfluos, todos em ouro e prata, Deuses pagãos...

Os doze guardas reais foram ‘pulverizados’ por minha brutalidade e sede de vingança. Não perdi mais do que um sexto de hora mandando-os ao sheol. A porta de madeira era gigantesca, toda entalhada à mão, nela havia figuras bizarras, mais pareciam criaturas híbridas ou Deuses não revelados aos mortais... Como repúdio, cuspi em minhas mãos antes de empurra-las com muita força, fazendo-as baterem, derrubando a mobília ‘imperial’, que decorava as extremidades da gigante porta, já dentro do recinto.

Lá estavam... senadores, bajuladores, políticos, conselheiros, um general – patente alta -, concubinas e serviçais... Bem como meu extinto de, agora então... um ‘guerreiro assassino’ preverá...

- Eis a minha plateia...! – ironizei.

- A dizer pelos estereótipos, creio que nenhum de vocês seja Nabucodonosor, ‘O Rei dos Reis... ’ ‘O Deus Rei...’ Talvez já existam outros títulos que representem o tamanho da insanidade de ‘Vossa majestade’, mas confesso não me recordar...

Com este pequeno insulto ao ‘adorado Deus-homem’ – que ainda se encontrava de costas para todos os ‘convidados’, eu me apresentei... - aos que não me conhecem, sou Victorious, e não é por nada que recebi esse nome – Vitorioso -. Assim, girei rápido, me abaixando, com minha mão direita peguei uma lança caída da mobília que derrubei, então, em um golpe de velocidade, maestria e habilidade, lancei... e a ponta de aço dormiu na jugular do General, causando alvoroço na plateia de horrendos bajuladores, mas sem nenhum efeito sobre o Rei da arrogância Nabucodonosor, que por mais alguns instantes permaneceu na sua vista para a carnificina que se instalava lá embaixo, nos muros da cidade.

Então, virou-se para mim, sua expressão era fria e isso era tudo que almejava, não havia medo em seus olhos, e isso era tudo que eu ansiava...

- Ao que percebo, seu eu deixar sua cabeça rolar até os portões de entrada, acabo com esse pequeno insulto de vocês, você é o jovem que lidera essa baderna, creio eu. Por ter chegado até aqui, sozinho ao que me parece, merece uma morte digna, ou se preferir posso lhe estender minha misericórdia e lhe oferecer um cargo dentre os mais altos escravos, serviçais ou quem sabe até ocupar o posto desse general que você acabou de abater, basta você se curvar perante o Rei-Deus Nabucodonosor. – ofertou o Deus homem.

- Não sou as terras que você ‘conquistou’, tão pouco me curvarei ao homem que irei matar dentro em breve, e é uma pena não ter tantas opções para lhe oferecer, sendo assim, só te resta uma morte ‘digna’, que tal se eu descer essas escadarias com seu cadáver se arrastando pelo mármore oriundo do suor de escravos? Talvez isso... acabe com essa bagunça!!! Afrontei o Deus-homem.

- ‘Insolenteeee’, eu sou o glorioso Nabucodonosor, Rei dos Reis, eu conquistei o ‘mundooo’. Esbravejou.

- Não há glória debaixo dos céus que dure para sempre. Afirmei.

Empunhei minha espada e parti em disparada... saltei feito águia, ele, com muita habilidade, rolou por baixo de mim, enquanto minha espada encravava o trono fétido do Deus-homem, sua espada riscava a couraça de aço e couro que protegia meu peito. Qualquer outro guerreiro temeria por sua vida, mas não Victorious! Eu... sorri, apenas... sorri!

- O riso também pode denotar medo, jovem, sabia disso? Lançou a semente do medo no ar, Nabucodonosor.

- Essa ‘regra’ não se aplica a mim, não a Victorious! Devolvi a semente do medo ao Deus-homem.

Feito um leão faminto vi em meu oponente, a presa, nossas espadas se engalfinhavam, soltavam lascas e partículas de metal, imperceptível aos olhos dos mortais.

- Garoto, você morrerá por sua afronta, orgulho e arrogância. ‘Profetizou’ o ‘Rei dos Reis’.

- Se isso não matou Nabucodonosor, o que se julga ‘o Deus-homem’, tão pouco fará à Victorious, seu algoz. Poupe suas palavras, talvez queira usa-las para implorar minha misericórdia. Conclui.

Posicione-me de um modo que mais fazia lembrar um guerreiro da dinastia Zhou, da velha china. Com uma perna semi-flexionada e a outra pronta para me dar o empuxo para o golpe final, feito um guerreiro samurai, mentalizei o ataque, canalizando toda a minha energia vital para a empunhadura da minha espada. Minha espera estática foi uma afronta para o orgulhoso Rei. Ele correu em minha direção feito um leopardo jovem. Somente aguardei. Foi então que o Deus-homem decidiu que o ataque seria aéreo. Nabucodonosor voou feito gavião. E com sua lendária espada, desceu feito um raio, visando crava-la em meu crânio de tanto ódio à minha afronta.

Eu continuei parado, frígido e calculista. Então numa fração de segundos senti no ar, no olhar dele, que Nabucodonosor, que se julga um Deus, estava flertando com o medo. – Porque ele não se move? Fez tudo isso para ser apunhalado tão facilmente? Esse rosto não me parece familiar... espera, não pode ser? Pensou o conquistador do mundo.

Quando Nabucodonosor desceu com sua espada empunhada para baixo, eu esperei, saltando para trás, até que sua lamina, que mais parecia diamante, beijasse minha face, riscando superficialmente meu rosto... nesse exato momento, já no alto, passei minha espada por trás do meu dorso, levando-a da mão esquerda para a direita, e então cravei sua primeira metade na espinha do Rei do mundo.

Enquanto, ele, ainda no alto, ia caindo, eu me projetava para cumprir minha missão na terra, quando fui interrompido pela agonia do Deus-homem.

- Quem é você guerreiro?

- Já me apresentei, sou Victorious e isso lhe basta!

- Então por qual razão você me apresenta à morte?

- Você ‘Rei dos Reis’, me tirou a vida quando arrasou Jerusalém - 586 a.c -, ela só tinha três anos, somente três anos! Você, pessoalmente esteve lá, ateou fogo na ‘cidade’.

- Não consigo me lembrar do seu rosto, e eu nunca me esqueço de um semblante sequer, ainda mais um rosto igual ao seu que mais parece aqueles jovens sonhadores que dá nome as suas espadas, agora me lembro de sua filha, seus pais... Como poderia me esquecer se imploraram por minha misericórdia! Enquanto lançava seu orgulho aos quatro cantos daquele recinto, de sua boca jorrava sangue.

- Eu viajava com uma caravana que trazia alimentos para todos, no fatídico dia, por isso não me recorda, mas não seja por isso, aqui estou eu!

- Helena... esse era o nome dela e depois da perda da mãe no parto, ela, junto com os avós, era tudo que eu tinha...! Ah, e sim, essa mesma espada que dorme nas suas entranhas tem nome... Superbia Avaritia! E assim, pela sua Soberba e Avareza, acaba hoje o seu reinado!!!

Sem dar mais chances ao Deus-homem, rasguei sua espinha de fora a fora, feito um animal, pois foi nisso que o homem me transformou... Foi nisso que a injustiça terrestre me transformou, em um... animal! Pois quando lhe tiram tudo, não existe sentido em ser mais um... humano!

...

Pois bem, como não há glória debaixo do céu que dure para sempre, aguardarei pelo meu quinhão, no juízo final!

          




    

  

 

Nenhum comentário:

Postar um comentário