quarta-feira, 7 de setembro de 2016

Conto 2. Victorious. Justiça nos tempos do Messias



Conto 2
 
Victorious. Justiça nos tempos do Messias

"Dizem que Victorious é um guerreiro de Deus, uma criatura sem mácula, um ser que não conheceu o pecado, por isso corre pela areias do tempo, sem ser golpeado pela morte. Outros acham ser um anjo, um guerreiro de casta inestimada que foi inculbido de nos proteger físicamente... Tem quem diga que Victorious pactuou com o reino das sombras e por essa razão a morte não lhe pertence!... Eu, particularmente não compactuo desse último pensamento, penso mesmo que Victorious seja um guerreiro do Criador, um ser distinto, porém, humano... que realmente não bebeu no cálice do pecado e por essa razão domina o tempo, fazendo deste, um refém! ‘’
(escriba judeu do primeiro século da era comum, sobre a lenda do guerreiro Victorious)
Jerusalém. Ano 34 EC.
O cheiro do balsamo exalava das barracas, se misturando com o aroma das oliveiras...
A terra santa se tornara covil de salteadores, comerciantes, aristocratas, soldados e mercenários! Esse cenário comercial contrastava com o sentimento mistico que envolvia aquele solo sagrado, que já fora pisado por tantos profetas. O templo de salomão era a memória física para os puros. Já os soldados romanos, eram a realidade para os menos abastados! Eu sabia muito bem o que me trazia a essa parte do mundo - vingar a morte de meu ‘irmão’! Sem rodeios, indaguei a um soldado romano:
- Onde encontro Pôncio Pilatos?
- O que quer com o Governador, insolente?
- Tirarei a vida de ‘sua magestade’, soldado. - Emendei.
O homem, covarde, preferiu não me agredir, talvez pelo fato do meu dorço pesar o dobro do dele... Resolveu assim chamar os guardas que patrulhavam as ruas.
- Guardas, guardas, levem esse homem. - Ele ordenou aos gritos.
Naquele momento começara meu plano!
Fui jogado na masmorra com alguns andarilhos, salteadores e traidores! Como castigo me impuseram a luta – clandestina - nas arenas, era tudo que eu almejava. Aguardei até que descem mais instruções, só que elas não vieram, fui conduzido em uma carroça por alguns quilômetros, até uma arena improvisada. Após a primeira luta do dia jogaram um corpo decaptado ao meu lado, mandaram que eu o puxasse para fora do campo de ‘abate’... Quando chegou minha vez percebi que enfrentaria, não um, mas dois oponentes, onde só o vencedor sairia com vida!
Como não havia suma importância, só quem acompanhava as ‘pequenas’ lutas eram soldados e generais, - quando achavam que estás seriam interessante -, fora estes, os outros eram; comerciantes – com interesse em comprar escravos guerreiros - e alguns moradores sem mais o que fazer... Deram-me uma pequena espada, enquanto para os outros dois, deram; uma espada maior para um e uma corrente com uma bola de aço de ponta cheia de espinhos – uma espécie de mangual – e ainda uma lança, para o outro.
- Antes de matar o Governador, primeiro tente matar esses homens, forasteiro insolente! - Chacoteou o soldado que me prendera!
- Sim, é isto que farei, soldadoo! - Balbuciei.
O primeiro oponente cometeu uma falha logo no início, veio a passos largos em minha direção e sem titubear, atirou sua lança em minha direção, pelo chiado cortando o vento percebia-se a velocidade do disparo, mas como disse, foi um erro crasso. Quando todos silenciaram e fitaram os olhos na minha rápida morte, simplismente me abaixei, flexionando uma de minhas pernas e olhando para o oponente, ergui rapidamente a minha mão pegando a lança a dois milimetros da parte que continha o aço cortante!
- Seu erro lhe custará a vida, guerreiro! - Disse em um tom de voz 'sério, porém, sereno'.
Todos pararam, o duelo ganhara a atenção dos que se achavam importantes, ali presente!
Corri, e quando me aproximei do tolo, agora sem lança, saltei alto, disparando minha lança no tornozelo do oponente. Seu grito pode ser ouvido à quilômetros de distância. Então, com ele, ali colado ao chão, só tive o trabalho de pousar do meu salto cravando a pequena espada na clavícula do fétido ladrão de templos, pois era isso que ele escolhera ser.
Sem armas em punho fui em direção ao segundo homem, este tinha a minha estatura, e para tornar as coisas mais difíceis, tinha um açoite de ferro e uma bela espada empunhada na cintura. Girando a corrente sobre sua cabeça, aquela esfera de aço com pontas que mais pareciam navalhas, fariam um estrago que iria desde esmagar cranios até a cortar a carne de fora a fora. Quando o meu oponente terminou de girar sua arma, ele soltou-a em minha direção, por muito pouco não decepa meu braço... Quando menos esperei, ele correu, veio em disparada com sua espada, e no primeiro ataque dele, pulei para trás, e assim de deu por mais uns vinte golpes sem intervalos... Mas o sábio vence o touro forte pelo cansaço, então, após o ataque de fúria veio a fadiga... nele, e não em mim. Em seu último golpe de desespero ele fincou sua espada no chão tentando me acertar, golpeei o grande homem com uma joelhada em seu maxilar, dos aredores da arena ouvia-se o os estralos dos ossos do queixo se quebrando, e antes mesmo dele cair no solo, lhe acertei um soco no peito com tanta força, que era fato que um dos ossos que lhe protegia o coração se quebrara, causando uma hemorragia fatal no gigante, assassino corrupto.
Pronto! Agora o povo tinha um novo 'herói'. O homem que jurara a cabeça de Pilatos. Pronto! Agora os Romanos tinham uma diversão... um gladiador para distrair os nobres! Eu estava cada vez mais perto do meu objetivo!
No exato momento que descontrai meus musculos, - do soco fatal que dei no oponente - pude notar que cerca de trinta guardas já miravam suas lanças para mim, como forma de defesa do Império Romano, sobre aquela terra, afinal temiam que um só forasteiro derrubasse a fortaleza Romana, situada na terra santa!
- Acalmem-se homens, esse guerreiro sabe que o que acabou de acontecer aqui foi épico, e ele merece viver... e lutar por sua liberdade, não é guerreiro? - Indagou um general condecorado!
- Minha liberdade a terei quando bem quiser... - Preferi não continuar na afronta! - Quanto a lutar... vejo com bons olhos isso! Ganhei aquele homem! Ele queria um guerreiro, e eu a minha 'luta'.
Ao vir de encontro comigo, perguntou meu nome, onde disse: - Victorious, esse é meu nome! E imediatamente abaixei minha mão direita, a qual o ‘aristocrata político’ tinha erguido, indicando minha vitória! Saí da arena aos gritos desarmoniosos de "Victoriou, Victorious, Victorious..." Mas não existia fama, nem oponente para um Guerreiro-herói na terra santa, por isso... Fui levado à Roma!
Da terra santa ao Coliseu
Já na entrada da ‘cidade eterna’ fui recebido com uma mistura de desdém e saldações, minha pequena fama de uma luta apenas, chegou  a boca do povo e do senado, agora o circo estava completo!  A vida de um gladiador não era boa como a do senado, nem tão ruim como a dos escravos. Tinhamos roupas e alimentos, treinamento corpóreo e umas poucas distraçoes que eu não tinha nenhum interesse, pois meu foco era a cabeça de Pilatos! Homens truculentos viviam às sombras de um império, meramente distrações. E a liberdade?... Não passara de sonho!
Minha primeira luta no Anfiteatro (Coliseu Romano)
60 mil pessoas, esse era o numero aproximado de rostos que estavam ali, prestigiando o combate e apreciando a desgraça alheia! Onde, de um lado estava um gladiador invicto, que seria ‘liberto’ após sua vitória – o gigante Cômodo. Do outro lado - o ‘desconhecido’ Victorious. Não, eu não precisava de fama, eu não almejava a fama, então, tudo estava do modo como deveria ser! Centralizados na arena, lá estavam, Pôncio Pilatos – o governador -. Senadores, bajuladores e um General, todos cercados por marmore esculpido, poutronas requintadas e tecidos importados do oriente...
Por saberem que eu desejava a cabeça do Governador, me deram como adversário o gigante Cômodo e uma fera - um cão gigante, sedento e faminto. A arena clamava ‘Mate o forasteiro, mate o forasteiro...’ A fera veio primeiro, salivando apetite pela sua presa, ela saltou buscando minha traqueia, protegi com uma armadura de braço. Senti suas presas transpassarem sobre minha pele, mesmo protegida pelo metal. Enquanto a fera tentava rasgar o metal e minha carne, esmurrei seu crânio, o que fez com que suas presas se quebrassem na parte da armadura. A fera, agora, passara a ser presa fácil, e com muita força agarrei em sua coleira, girando-a por três vezes e jogando-a sobre seu dono 'covarde'!
Ele, com seus pouco mais de dois metros e uns 130 kg não se esquivou do cão, mas preferiu permitir o choque do animal com seu escudo, permitindo a todos os presentes na arena que ouvissem o estraçalhar de ossos se misturando com o grito de dor do cão, já se definhando. O gigante veio correndo em minha direção e sua fúria era tanta, que sua espada, já feita refém por ele, me acertou no escudo com tanta força que trincara o mesmo de fora a fora, condenando este a talvez não resistir a mais um golpe sequer.
A arena se inflamou quando percebeu que a espada do gigante acabou com meu escudo, e aos gritos, pediam minha cabeça. A grande maioria eram quase sempre passivos a torcerem para aquele que estava em vantagem - queriam mesmo era ver mortes -. O grandalhão, inflamado pelo calor do povo, decidiu então que era hora de acabar com o combate, cerrou os dentes, correu e saltou, golpeando o ar em um movimento mortal. Desceu junto com o brilho do sol, numa brilhante jogada, onde eu, sem poder enchergar através do clarão, fiquei exposto ao seu ataque. Então, quando o gigante desceu, eu cruzei meu escudo, calculando que dessa forma ele resistiria à espada, que com o giro, diminuiria as chances do escudo se partir de imediato, pelo segundo impacto na mesma posição... A força do golpe foi tamanha que o escudo... me protegeu, porém, se partiu em quatro partes. Então, sem defesa, usei um clichê das arenas, soltando os pedaços do escudo, girei, pegando comigo um punhado de areia na mão e jogando nos olhos do grandalhão, o que era pra ser uma boa vantagem, não me deu mais do que poucos segundos para eu me organizar. mas era só o que precisava, como o homem era muito grande, calculei sua lentidao em executar o golpe com a espada.
Parei. Não olhei nem pra ele nem para a plateia. Dessa forma a afronta o trouxe para mim, o troglodita veio babando. Cravei meu pé de apoio no chão com muita firmeza para ter a força do empuxo necessário, então, quando ele chegou com sua espada cortando o ar sobre minha cabeça, me desloquei numa velocidade 'sobre-humana' para a direita, trazendo comigo meu punho fechado, golpeei o grandalhão no estomago, naquele momento eu sabia que suas entranhas tinham entrado em colapso devido à força do golpe. Mesmo sendo um golpe certeiro e de muita força, o gigante ainda asqueirou sua ira contra mim, porém, agora, eu pegara sua espada após o golpe com minhas mãos. Dei as costas para ele, afrontando-o novamente. Fui até próximo do público. Devagar e arrastando a ponta da espada na areia, fazendo um risco, que pareceu aumentar ainda mais o meu desdém mediante os olhos do oponente grandalhão. Parei novamente, só olhei para a ponta dos pés. Ele, sem arma em punho e com certeza sentindo muita dor em seu abdômen, reuniu sua ira, elevando sua concentração de energia vital, emanada, agora, da raiva. Veio correndo com os punhos dados, seus dedos entrelaçados, estavam prontos para me acertarem, feito uma marreta, esmagando meu crânio... Todos se levantaram ao ver que o grandalhão corria em minha direção e eu pouco me importava, - ainda de costas para o confronto -.
Levantei um pouco minha cabeça e observei uns poucos rostos que valiam a pena na arquibancada, uns com expressão de espanto, outros fechando os olhos, outros faziam gestos de que eu seria degolado... Porém, um menino me observava com aparente admiração, eu via o brilho em seu olhar, ele sabia, só não mais do que eu, que quem venceria aquele combate, não seria o gigante cheio de fúria. O que os outros não sabiam, e nem mesmo o grandalhão, é qua sua aproximação, fazia do dia, noite, com a sua sombra... Vendera muito barato a minha vitória. Cravei meu pé na areia, dessa vez meu empuxo seria pra trás, em direção a colisão, queria um choque com o corpo do gigante. Então, quando o dia virou ‘noite’ pela presença do grandalhão sobre minha cabeça, me projetei de forma muito rápida para trás, colidindo com ele, enquanto seu soco, com as duas mãos entrelaçadas, passava do ponto, devido o meu recuo... Meu dorso se chocou contra o peitoral dele, lhe tirando todo o ar, tanto pela velocidade de chegada dele, como também, pela velocidade e força do meu empuxo contra seu diafragma.
Pronto, venci o gigante furioso... Olhei na direção do garoto, corri os olhos por boa parte da arquibancada, e então minha espada, que tocava o chão, já não queria mais aquele destino, e sim a traqueia e o queixo do grandalhão.  Assim se deu, girei minha espada sobre meu pulso e ela dormiu na garganta do tolo desprezível. O garoto? Cerrava os punhos, vibrando, comemorando a minha vitória... Apontei para ele, e em seguida para um suporte contendo quatro lanças para uso dos soldados, com o simples gesto, o garoto entendeu que eu queria aquela arma. Ele correu quatro lances de arquibancadas e desajeitado me jogou o objeto que passava a sua altura de tamanho, poucos perceberam a movimentação, aclamados pelo calor do combate.
Enquanto o Anfiteatro (Coliseu) inflamava em euforia, olhei de relance onde estava meu ‘premio’ - Pôncio Pilatos -. Dei quatro passos, como se fosse sentir o calor do meu público, e quando simulei uma saudação, fiz desse gesto, o ato de pegar a lança, então, sem estar olhando para meu alvo – ainda de costas – pressionei os músculos da minha mão direita sobre o frágil cabo da lança, então, com muita força, disparei... 60 mil vozes se calarem! O chiado da lança cortando o vento podia ser ouvido, e então... A lança encontrou o ombro de Pilatos, que ‘comemorava’ a minha vitória, deixando-o preso à sua poltrona. Seu grito causou alvoroço e confusão. Sem mais demora, corri, e do meio da arena, saltei, pousando meu corpo frente ao tirano. Ninguém acreditava no que viam:
- Ele não é humano! - Muitos falavam.
– É um Anjo guerreiro! – Tentavam entender.
- Como pode um homem saltar dessa forma? – Questionavam outros.
- São os Deus nos punindo por nossa tirania! – Talvez esses tivessem razão, talvez!
O general que acompanhava o governador, tentou esboçar uma reação, para protege-lo, mas foi em vão, ao que ele veio em minha direção, lhe acertei um golpe com meu cotovelo direito, rasgando a carne sobre o olho e de tamanha força utilizada, o general veio ao chão, já inconsciente. Pilatos, aos berros disse:
- Você é louco! É um doente!
- Sim, somos todos enfermos, de uma doença chamada... Sanidade! - Completei.
- Victorious, não é? Mas porque veio tirar minha vida, guerreiro, quem é você e quem te enviou? - Bombardeou de perguntas o pseudo aristocrata.
- Sou Victorious! – Quem me enviou? Você não é digno de pronuncia-lo! – E o porquê? Receba minhas honras em nome de meu irmão, o Messias, o mesmo que ‘você’ matou!
Então, coloquei meu pé esquerdo em seu outro ombro, afundei ainda mais a lança cravada no ombro direito, e imediatamente a retirei, trazendo com ela um esguicho de sangue. Pilatos gritou, e seu berro ecoou por toda a Roma, sendo ouvido pelos justos de Jerusalém. Antes mesmo que ele terminasse seu berro de dor, girei a lança sobre meus dedos por sete vezes, a velocidade era tamanha, que ouvia-se o chiado e ao fim da sétima volta, retirei meu pé do ombro do tirano e a lança descansou exatamente na junção do braço com o peitoral, de cima para baixo, acertei a cavidade em sua articulação com tanta força que a lança transpassou sua carne, rompendo ligamentos e lhe ‘tirando’ o braço, que só ficou preso pelo tecido muscular!
Foi seu fim! Duas perfurações, creio eu que representaram muito bem minha vingança, em defesa ao Rei dos Judeus!
Antes que tentassem me matar ou prender, avancei pelo Coliseu, arquibancada acima, e ao chegar ao topo, saltei... Os gritos, sussurros e anseios da grande massa eram cabíveis, quem em plena sanidade saltaria de uma obra que beirava os duzentos metros?
Então, Victorious não foi mais visto em Roma, seu corpo não foi achado e nem souberam seu paradeiro... E por mais um pouco de tempo, dentro do Coliseu o dilema era: Quem seria esse guerreiro; um ser mitológico, um guerreiro enviado do céu, um ser que pactuou com o reino das sombras? Não, aquele povo não era digna dessas respostas!


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