Eu iria pra academia... mas preferi ir buscar a pequena Giovanna na
escolinha.
19 de abril de 2017
Cheguei mais cedo do trabalho, o que significava que antes de ir a
consulta médica agendada e mais um compromisso que tinha, daria para ir
‘treinar’ mais cedo, academia mais vazia... tranquilo... Mas imediatamente,
soube o que eu deveria fazer com aquela hora que eu nunca tive – estar em casa
as 16h -, eu iria me preparar para buscar minha borboletinha (Giovanna, 2 anos
e 10 mêses) que estava na escolinha pouco mais de dois meses, sem que eu
pudesse levá-la ou buscá-la, devido o horário do meu emprego.
- bom, vamos lá, o que vestir? Estou falando da minha filha, tenho um
encontro com ela hoje! Já sei, levarei pra ela uma rosa!!! Decidi!
Então, entrei no carro e dirigi até a floricultura, onde comprei uma
rosa – vermelha com uns arranjos, coisa simples -,
- pois bem, vou usar esse jeans que comprei recentemente, com essa
camisa nova, acho que vai ficar bem com o tênis preto... é, acho que vai
gostar. Conclui.
Decidido, aparei a barba, e após o banho me perfumei.
- acho que vou chegar e falar... Não, é melhor eu chegar e... também
não! Sim, eu estava nervoso, como, quando conheci a mãe dela! Isso tem nome,
como é mesmo? Ah me lembrei, se chama AMOR!!!
Busquei minha esposa no trabalho e quando ela entrou no carro já fui
logo falando:
- hoje a rosa não é pra você não, hein, nem se assanhe (risos), hoje ela
será dada à minha filha, tenho um encontro com ela (risos). – será se ela vai
gostar da rosa?
- hummm, ela não gosta muito de flores! Lembrou minha digníssima.
- parece alguém, sabe... que, quando dou flores, insiste no argumento:
“flor não é coisa de comer” (risos). Brincamos, um com o outro ainda no carro!
......
A escolinha municipal é bem simples (nãooo digaaa!!! Risos), mas não vou
negar que é bem ambientada, própria e adequada para o ensino (muito em função
do amor dos Docentes, é claro). Um local cheio de cartazes das crianças,
brinquedos, cores, tem aqueles bancos (assentos) que são de ‘lápis de cor’, sabe?
Bem legal! Subi para o primeiro andar, perguntando para a minha esposa qual era
a sala da minha princesa... Pra aumentar meu nervosismo, era quase no final do
corredor – que pra mim, parecia não ter fim.
Cheguei na sala. Avistei primeiro a professora, sentada, junto à
mesinha, com minha borboletinha. Ahhh ela estava tão linda de uniforme – tênis
rosa, que cabe, ainda, na palma da minha mão. Jaqueta e calça de tactel, acho
que ela estava desenhando (espero que não seja um desenho da mamãe, porque, sem
querer, querendo, ensinei ela a desenhar a mamãe de um jeito ‘diferente’ e
geralmente sai ‘meio estranho’ sabe... não sei explicar (risos) mas é tudo
feito com muitooo amor (risos)... enfim, acho que ela estava realmente
desenhando, mas eu não consegui gravar isso em minha memória, afinal eu estava
muito ocupado, me perdendo naquele lindo rostinho inocente!
Ela me sorriu! Acho que pensou “papai,você não foi pro trabalho, eu acho
que me lembro do ‘senhor’ ter feito minha mamadeira e de costume, ter pedido minha
mão para o ‘senhor’ dar o beijinho nela, aquele que o ‘senhor’, dá, e logo em
seguida diz que está indo trabalhar e que nos veremos à noite!” tímida, já
sabia o que fazer, foi em direção ao armário e pegou sua mochila de rodinha,
veio até a porta, - enquanto a professora perguntava o que eu era da Giovanna,
conferindo o cartão de liberação da criança
-. Ahh, foi muito lindo ver minha filinha seguir o protocolo, confesso.
Quando ela chegou na porta da sala, entreguei a rosa que comprei:
- olha o que o papai te trouxe, filha, uma flor. Disse, todo sorridente!
Ela, indecisa e contida, sorriu, flertando com a tímidez. Peguei sua mão
e a coloquei em meu colo, como sempre, a beijei com a maxima do amor paterno.
Ela, já desprendida do acanhamento, me devolveu o abraço apertado (como, quando
brincamos, simulando que ela me abraça tão forte que chegamos a cair toda vez
no chão de casa). Me perguntou:
- que isso, papai, é uma ‘fô’ (flor), é ‘pá mim’ essa ‘fô’?
- sim, filha, é que você tem uma papai que te ama muito e é muito babão,
você sabe né (risos). Denunciou, minha esposa, enquanto registrava nosso
momento com fotos!
- papai, minha motoca tá lá embaixo. Lembrou a pequena Giovanna, que
havia ido pra escolinha de motoca com a mamãe, já que papai tinha usado o carro
pra chegar mais cedo naquele dia.
Assim, seguimos para o terreo, em uma mão a mochila de rodinha, que não
tocava o chão devido minha altura (risos) e na outra mão a pequena Giovanna,
minha princesa – uma flor carregando uma rosa -. E ao meu lado, a mamãe da
Giovanninha me vendia o amor em seus olhos, parecia se orgulhar de sua família
– era exatamente isso que eu via em seus olhos brilhantes!
Pegamos a motoca e descemos as rampas de acesso do jeito que a
Giovannainha gosta:
- “faz o turbo papai”
- ah, então você quer ‘Velozes e furiosos’, né?
- ‘é muito ‘ligal’, meu pai é doidoo.’ –falava a princesa, ao fim das
duas rampas.
Bom, esse dia foi ambíguo, para mim. Ele poderia ser um dia normal, só
que eu escolhi passar por ele de uma maneira diferente, especial, essa é a
palavra, pois eu sei que a vida pode, de alguma maneria me preivar disso, então
eu decidi, que quando for olhar para trás, eu direi assim: “eu não só fui um
pai, mas eu escolhi viver a figura de um pai com plenitude, e dessa forma eu
passei a... viver!
Se eu poderia resumir esse texto, sim, poderia! Ficaria mais ou menos
assim: “hoje saio mais cedo do trabalho e busco minha filha! Ponto e pronto.”
Mas não! A vida me permitiu que eu fosse buscá-la, hoje, mas talvez, o
universo, de alguma maneira, me impossíbilite disso, amanhã! Talvez eu não a
tenha, ou ela, a mim! Sim, infelizmente, a vida tem dessas coisas, a chamamos
de ‘encontros e despedidas’.
Por essa razão observei tudo, vi as cores, senti os aromas, em alguns
momentos parei o tempo, e em outros, o tempo foi quem me atropelou, nesse
episódio único em minha vida, é claro que pode e irão haver outros, mas o olhar
dela, sua timidez, o cheirinho grudado nela aquele dia... tudo, tudo será
diferente, mesmo que pra melhor, mas nunca será... igual!
O legado que deixo com essa história? Poetise mais, viva os detalhes de
quem você ama, não precisar ser um filho, pode ser quem você quer que seja, mas
viva as particulariades. Somos consumidos diariamente por uma enxurrada de
picuinhas, entretenimento barato, consumismo, entre tantas outras coisas que
nos roubam vida, folego de vida.
Tão certo feito a morte, é o fato de que o tempo perdido não voltará,
por isso, entre tantas razões, certezas e dúvidas, escolha viver os detalhes da
vida, e tenha a certeza de que lá na frente, num futuro mesmo que incerto,
valerá e muito, cada lembrança, cada lampejo de memória que tivermos, sobre
como vivemos, pois o que vivemos define
quem somos e talvez, quem pra sempre seremos!
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