Conto: Os Cavaleiros da Ordem Mística e As Gêmeas da Torre Norte
Gênero: Aventura/Fantasia
Data: 16/06/2017
Prólogo
Houve um tempo em que o oriente médio foi
tomado pelas Cruzadas e na linha do tempo, havia neste mesmo periodo um regime
extremista, que controlava até mesmo a natalidade, bem como a averiguação
metódica sobre o nacimento de filhas mulheres. Muitas vezes esse era o
principal motivo de tantas tentativas frustradas de abandono da região!
Foi nessa época que viveu Abner, um homem até
então sereno e reservado. Exímio ferreiro, dominava, com maestria, a arte de
transformar matéria. Abner vivia ‘isolado’ em Nazaré, - cidade do distrito
norte de Israel, à uns 150 km de Jerusalém , um bocado longe para os
trasnportes da época – ele era alheio às desavenças entre Cristãos e Muçulmanos.
Uma vez a cada sete dias, montava em seu cavalo puro sangue, e rumava à
Jerusalém para barganhar com o Sultão e também com comerciantes locais, que
tinham total interesse em suas armas forjadas, raramente fugia dessa rotina
maçante.
Mas como toda regra
tende a se curvar à exceções, certo dia, após ter cavalgado por horas, o ferreiro se deparou com uma
cena incomum, parecia ver uma mulher tentando silenciar seu bebê, atrás de um
espinheiro, tentando, assim, salvar a vida da criança e também a dela. Diante
da cena, o ferreiro parou seu cavalo a uma pequena distância – que lhe garantia
não ser tomado pelo imprevisto – e com sua espada em mãos, se aproximou da
pequena moita...
Segundo
milénio d.C. Ano 1212
Israel -
Jaffa - hoje incorporada a Tel Aviv.
AS BARGANHAS IAM BEM, - também, pudera - a cidade que ama deitar-se na cama dos
conflitos, necessitava e muito das armas forjadas, e ninguém fazia isso melhor
que Abner, o ferreiro, como era conhecido no grande centro. A grande maioria
dos que negociavam com ele já sabiam que era um homem de poucas palavras,
vestia sempre uma roupagem que incluía casaco e capuz, o que fazia o ferreiro
ficar ainda mais com um ‘ar’ místico. Suas roupas, sua postura e sua estrutura
corporal, fazia muitos pensar que o misterioso barganhador de ferramentas e
armas forjadas, era na verdade um ‘Templário.’
- o que
temos hoje, ferreiro? – perguntou o negociador do Sultão.
- quatro
espadas, seis facas para o uso no combate dos homens de linha de frente , e
duas lanças! – respondeu Abner!
-
precisamos renovar muitas de nossas armas, ficaremos com todas! – disse o
negociador.
- o preço
subiu, preciso ir cada vez mais longe para obter os metais necessários!
- o Sultão
não paga a mais por qualquer que seja a razão.
- pois,
então, diga ao Sultão que ficará sem minhas armas e consequentemente, sem a
vantagem no combate, já que suas armas estão gastas e fracas! – ameaçou o
ferreiro.
- você está
ameaçando o Sultão, ferreiro? – pois saiba que por muito menos já vi vários
homens perder a vida, mesmo tendo o seu tamanho! – devolveu a ameaça.
- o preço
subiu! – informou, novamente, já enrolando as armas forjadas em um pano velho.
- quatro moedas
a mais do que nosso acordo anterior e ponto final. – falou o negociador.
- são suas!
– concluiu o ferreiro.
Realmente, Abner era bem reservado, parecia não
se identificar com aquele caos instalado. Por onde passava, com seu tamanho,
casaco, capuz e cabeça baixa, chamava a atenção. Ao máximo, acenava levemente
com a cabeça, mostrando cordialidade a alguns poucos homens. Antes de sair da
cidade, o ferreiro ainda ajudou com uma moeda, um pedinte. Se alimentou em uma
espelunca que servia pão, vinho, frutas e cereais. Antes de rumar para Nazaré.
- Ei, você
é o ferreiro que serve armamento ao Sultão, não é? – perguntou um cliente da
mesa ao lado!
- não sirvo
a ninguém debaixo do céu! – respondeu já se levantando, não queria se estender
no assunto.
Na volta para casa encontrou um garoto que
caminhava lentamente, sozinho e cabisbaixo, o garoto quando o viu, gritou:
- Ei,
guerreiro, dê-me uma moeda, por favor, tenho, sede e fome.
- O que faz
aqui no deserto... – antes de terminar, percebeu a emboscada. Eram salteadores
usando o garoto para que o bando tivesse êxito no roubo.
Quando percebeu do que se tratava, empunhou sua
espada e pulou do cavalo. Outros talvez fugissem, ou dariam-se por vencidos,
mas Abner, sereno, sabia que; se alguém se sairia mal naquele episodio, não
seria ele.
- seria
menos covarde da parte de vocês, se não usassem o garoto. – aparentemente
calmo, falou o ferreiro. – três, estão em apenas três? - concluiu perguntando
em tom de ironia.
- passe para cá as moedas da venda que
concluiu para o Sultão, ferreiro, assim ninguém se machuca. – ameaçou um dos
salteadores.
- o Sultão
que enviou vocês ou são burros por natureza? – perguntou.
Um dos salteadores disparou com sua faca longa
na direção do ferreiro, que, sem se mover, se defendeu usando sua espada. E,
imediatamente, após defender o golpe, girou e abriu uma fenda no braço do
ladrão. Ao ver a habilidade do ferreiro com a espada, um segundo ladrão
resolveu correr, fugindo. Mas antes que fosse longe demais, Abner lançou uma
pequena faca, que descansou nas costas do fugitivo, derrubando-o logo em
seguida! O terceiro ladrão, que parecia ser o líder do bando, já sabendo seu
fim, pegou o garoto e colocou sua faca no pescoço do menino franzino.
- que tal
se eu cortar a garganta do garoto? – perguntou o ladrão covarde!
- nãooo,
para, por favor, não faça isso – implorou o menino. – Cale a boca, filho! –
ordenou o ladrão, dando a entender que era pai do menino!
Com uma mão, Abner jogou o saco de moedas à
direita do ladrão, enquanto ele acompanhava com os olhos o voo do saco de
moedas, o ferreiro, muito rápido posicionou uma pequena faca em sua mão
direita, só esperando o momento exato para acabar com o sofrimento do garoto! E
assim se deu, o ganancioso salteador, afrouxou do pescoço do menino e
abaixou-se para pegar as moedas, e quando voltou a sua posição de origem já era
tarde, o cálculo foi perfeito. O ferreiro aplicou a força exata para que a faca
atingisse a velocidade ideal para dormir na jugular do ladrão covarde. Era uma
cena pesada para um garoto de apenas dez anos, mas fez-se necessário na
ocasião, já que os salteadores obrigaram o menino a servir-se de chamariz e
ainda o fizeram de refém.
- Você tem
realmente sede e fome? – perguntou o ferreiro, parecendo ser meio sem jeito com
crianças!
- sim tenho!
– me desculpe eles falaram que me matariam. – você é realmente um guerreiro? –
o garoto parecia ter muito que conversar.
- tome uma
moeda, vá imediatamente para sua casa, e caso perguntem o que aconteceu aqui,
não tenha medo de falar a verdade, pois será menos perigoso pra você, dessa
vez, falar a verdade, agora vá! – finalizou Abner o ferreiro.
O menino correu que nem mesmo olhou para trás.
Sumindo na linha do horizonte.
O sol resolveu descansar um pouco antes do
momento que Abner chegou em casa. O cenário era dos mais lindos que os olhos
humanos pudessem presenciar. O sol se escondeu por de trás de duas montanhas
que faziam lembrar um vermelho óxido. Ainda ao fundo, mas logo ao lado a
discrepância era figurada por colinas que aos poucos se esverdeavão com o capím
novo. O oriente apesar dos conflitos dos homens ainda reservava lugares muito
bonitos.
Passados sete dias, quando Abner ia voltando
para barganhar em Jerusalém o ferreiro se deparou com uma cena incomum, parecia
ver uma mulher tentando silenciar seu bebê, atrás de um espinheiro, tentando,
assim, salvar a vida da criança e também a dela. Diante da cena, o ferreiro
parou seu cavalo a uma pequena distância – que lhe garantia segurança – e com
sua espada em mãos, se aproximou da pequena moita.
- quem quer
que esteja aí é melhor que saia, antes que seja tarde! – impôs o ferreiro com a
espada na mão.
- por
favor, não nos faça mal. – implorou uma voz feminina, que vinha de trás daquela
moita. – eu e minha filha estamos feridas, eu imploro por ajuda, por favor. –
continuou.
Abner, com todos os sentidos atentos, foi
caminhando em direção a voz, até que pôde ver que se tratava de uma mulher com
uma criança nos braços, havia na roupa da mulher e da criança, machas de
sangue!
- o que
aconteceu?
- tentaram tirar
minha filha de mim, só por ela ser uma menina. Mas eu não permiti e nunca
permitirei.
- esse sangue
é seu ou é da criança?
-
infelizmente esse sangue não é meu, é da minha pequena filha, me ajude, por
favor – novamente ela implorou.
- como sabe
que não sou um dos que fizeram isso a vocês? Carrego uma espada, como pode ver!
– perguntou o ferreiro com certa razão, já que sua estrutura e vestimentas
vendiam a imagem de um guerreiro ou soldado.
- seus
olhos.
- o que tem
meus olhos? - perguntou, ele?
- você
carrega nos olhos, ao menos nesse momento, um mundo de bons pensamentos, eles
refletem um bom coração. – desmistificou a mulher.
- já que
confia tanto nos meus olhos, se me permite, suba no cavalo com a criança, as
levarei até minha casa... – me chamo Abner, sou ferreiro e estava indo
barganhar na capital...
- sou
Aisha! – agradeço a cordialidade!
Após chegarem na casa do ferreiro, ele
verificou os ferimentos na criança, – não era nada bom – havia a possibilidade
de a criança ter infeccionado suas feridas, infelizmente, também, havia perdido
muito sangue, talvez não resistisse, se quer a mais um dia. Trataram suas
feridas e assim, mãe e filha foi descansar, dormiram por cerca de dez horas,
então quando a moça acordou percebeu algo errado, seu bebê não respirava – a
pequena criança não suportara a fúria dos homens, assim, sucumbiu! –
- Socorroooo!
Minha filha, me ajude, minha filha não respira!!! – mas já era tarde, Abner,
nada pôde fazer, se não, tentar consolar a mãe!
- Sei o que
se passa em seu coração, e nada e nem ninguém é capaz de confortá-la à altura
da sua dor – disse o ferreiro, como que revelando uma cicatriz.
Enterraram a pequena criança nas proximidades
da casa de Abner...
– Quem sabe
o Senhor tenha misericórdia e você, ainda que demore, faça justo o seu nome,
minha pequena, e lhe traga de volta. - Balbuciou a mãe, cheia de luto. – Ela
fazia menção ao significado do nome da filha, Aída – a que retorna -.
Aisha ficou por sete dias morando ali, como
visitante. Abner, sempre muito contido e reservado, seguiu em sua rotina,
forjando metais, deu tempo à moça, parecia não ter pressa, parecia já conhecer
daquele dissabor da vida. Durante esses poucos dias, toda vez que a moça se
recostava para dormir, Abner ia até o cantinho que a pequena Aída havia sido
enterrada e por ali ficava, em pé, em silêncio, ninguém sabia o que se passava
na cabeça do homem misterioso. Até que um dia Aisha, num sono leve, acordou e
presencio a cena, sem saber se observava ou ia até lá, preferiu ver até onde ia
aquele episodio, observou o grande ferreiro por um bocado de tempo, às vezes o
homem ficava em pé, parado, às vezes, se agachava e tocava, com suavidade, a
terra que cobria o corpo da garotinha...
O sol deu bom dia no Oriente, surgiu, intensificando
o ‘vermelho óxido’ de algumas montanhas – que não se rendiam ao cobertor verde de
grama, algumas ovelhas eram vistas ao longo do cenário, pastores as acompanhavam,
tocando o rebanho... A moça veio em direção ao espaço reservado – nos fundos do
terreno - para o trabalho de Abner:
- tome, é
chá, tomei a liberdade de arrancar algumas folhas no seu quintal – ofereceu o
copo ao ferreiro.
- pelo
aroma parece bom, acordou mais cedo hoje? – pegando a bebida, perguntou.
- sim, o
chá está realmente bom. Acordei mais cedo, partirei em minutos...
- você já
se sente ‘pronta’ pra partir? – perguntou o ferreiro.
- agradeço
a hospitalidade, homens que se dizem reis, não tiveram a sua nobreza. –
agradeceu à moça.
- fique o
tempo que precisar, como deve ter notado, passo desapercebido em minha própria
morada – desprendeu um ligeiro sorriso, tímido ao responder. – posso lhe
perguntar para onde vai?
- tudo
mudou, e nada mais faz sentido. Meu norte irá variar...! – disse Aisha.
- não
trocamos muitas palavras durante esses dias, não sou muito bom com elas –
confessou o ferreiro.
- há homens
que falam muito, mas nada dizem! Mas há os que muito dizem, sem nada falar. – surpreendeu
Aisha, o ferreiro. – Posso te fazer uma pergunta? É justo já que você me fez
uma, sobre onde irei, ao partir – na noite de ontem observei você, estava
próximo ao local onde enterramos Aída, o que fazia ali?
- acho
justo. – apenas meditava sobre a vida... sobre como somos mero pó, grãos de
areia em uma mão posta contra o vento... sua pequena Aída me trouxe lembranças,
que iam do riso à lágrima... Como pode, queremos tanto a vida, mesmo quando ela
não parece nos querer...? Enfim, penso muito mais do que falo... – Disse o
ferreiro, sem esclarecer, ainda, muitas questões.
- Já tinha
ouvido falar de você... o desconhecido ferreiro! Ou, o misterioso vendedor de
espadas...! – O pai de Aída é o mesmo homem que compra a maior parte de suas
armas forjadas... O Sultão Amin! – falou a moça, sem empolgação nenhuma!
- foi ele
quem mandou matar a criança? Perguntou Abner!
- Sim!
Quando Aída nasceu ele ficou furioso, queira um herdeiro para o trono, e suas
outras três mulheres, infelizmente, também lhes deram filhas mulheres... todas
as crianças morreram às mãos de seus capangas! – não sei por qual razão, ele
ainda permitiu que Aída vivesse por dois meses, mas influenciando pelos
conselheiros veio em nosso encontro para matá-la, preferiu seu poder, seu
império! – eu o afrontei, travamos um confronto, ele nos cortou com uma faca,
eu o acertei com uma jarra e fugi para o deserto, você nos encontrou no
terceiro dia! – é melhor eu ir, acho que ainda me procura! – desabafou a moça!
- É
perigoso, estará mais segura aqui. E... essa também é minha vontade, caso
queira saber! – falou o ferreiro, mostrando afetividade.
- por que
escolheu um lugar tão isolado, sempre foi só você, Abner?
- o único
barulho que tem me feito bem é o barulho do metal colidindo com outro... o caos
que o homem tem promovido em troca de territórios não me agrada, – o ferreiro
se referia as Cruzadas e a obsessão pela Terra Santa – preferi o quase
silêncio! Quanto a ser somente eu, não, nem sempre fui somente eu...! – vago,
respondeu o ferreiro.
- vou ver o
que temos para preparar um almoço! - Disse Aisha, dando indícios de que ficaria
ao menos por mais um dia.
O fundo da casa dava vista para uma rota de
pastores e ovelhas, ao fundo, um pouco distante era possível avistar o
amontoado de animais sendo tocado pelo homem, uns poucos habitantes trocavam cumprimentos
em uma estrada deserta que cortava, também, longe da casa do ferreiro, não dava
nem pra reconhecer os figurantes na trama do ferreiro. Não passava das onze
quando Aisha chamou o ferreiro, - almoço está posto à mesa, venha, pare um
pouco e se alimente – convidou Aisha
- esse
cozido está ótimo, onde encontrou tantas opções de preparo – sorriu levemente,
Abner, perguntando.
- ao que
vejo conheço mais da sua terra do que você, não é ferreiro? – lhe retribuiu um
meio sorriso.
- tenho
vinho, aceita?
- Sim,
porque não aceitar?! – respondeu Aisha!
A hospitalidade, foi, aos poucos virando
cumplicidade, que, também, aos poucos virou paixão! Os dois, Abner e Aisha, passaram
a viver juntos, agora como cônjuges, tornaram-se, marido e mulher. Abner achava
por bem, manter sua esposa longe dos locais mais povoados, sabiam quem era
Aisha, com isso, inúmeros problemas poderiam surgir, para ambos, mas
principalmente para a bela moça.
Aisha, era morena, pele clara e cabelos pretos
- longos fios que cobriam com volume, as costas da moça - esbelta, chamava a
atenção, não atoa, conquistou os olhares do Sultão, nem nenhum ‘esforço’. Era
jovial o seu olhar, exibia no rosto algumas sardas, que era mais apreciada por Abner,
do que pela moça. Aisha tinha a altura de seu esposo – pouco mais, pouco menos
que um metro e setenta e seis – dançava bem, flertava constantemente com o riso,
era sedutora e sensual, - por natureza - fazia seu homem, queimar em paixão.
Inteligente e responsavel, reunia os melhores atributos femininos.
Ele, Abner, pele ligeiramente mais escura que a
de sua esposa, era contido em palavras, sereno e reservado, sua massa magra lhe
revelava os músculos, olhos castanhos avermelhados, rosto fino com queixo
ligeiramente proeminente, – realmente lembrava um guerreiro, um cavaleiro
templário... ou algo do tipo – o que Aisha, moça sabida e culta tinha a falar;
Abner, a completava com ouvidos...
Assim, passados pouco mais de doze meses,
vieram os filhos para abençoar sua relação, um casal de gêmeas, – Iasmin e Isa
– a família prosperava nos frutos do amor... O tempo seguiu seu curso, foi passando,
e as gêmeas, crescendo. Já crianças, brincavam soltas, corriam e saltavam,
gostavam de brincar com os brinquedos de madeira talhados pelo pai, -hábil com
as mãos, não fazia só armas forjadas –foram aprendendo a falar, tinham um lar
que emanava amor, cumplicidade e respeito.
...
O Sultão, Amin, à distância, acompanhava tudo
oque lhe convinha, e não foi diferente com Aisha, que já fora uma de suas concubinas,
que fugira. Talvez, Amin, tenha se sentido culpado, por tentar matar sua
própria filha e, consequentemente, uma de suas mulheres! Talvez por isso tenha
‘permitido’ que o ferreiro vivesse com Aisha em outra cidade. O homem mais
poderoso do Oriente manteve ‘boa relação à distância’ com o ferreiro, comprava
suas ótimas armas forjadas e lhe permitia o livre acesso nas entranhas da
Capital. Mas tudo mudou no ano de 1218 d.C, quando uma de suas caravanas que
recolhia impostos lhe trouxe uma notícia:
- senhor,
trago-lhe os impostos das regiões mais distantes. São raros os casos dos que se
negam a pagar. Quando não tem a quantia devida à vossa magestade, barganham
animais ou objetos de valor. – disse um tesoureiro de corpo robusto, pele
marrom, olhos grandes e pouca altura, de nome Jamal, parecia muito ser um
bajulador ordinário.
- o que
mais tem pra mim, Jamal? – perguntou o Sultão.
- tenho,
também, notícias sobre o que o senhor me ordenou que procurasse – já transpirando,
disse o gordo bajulador.
- ordeno
que saiam todos da sala e fechem as portas ao sairem – falou o Sultão. – pois
diga-me, ainda se isolam com suas vidas sem valor e insignificantes, na cidade
de Nazaré... mesmo após tanto tempo? – concluiu a pergunta.
- sim, meu
amo, mas tem um pequeno detalhe – balbuciou o tesoureiro, arregalando seus
grandes olhos. – eles tem filhos, ou melhor, filhas. E eles sabem muito bem
qual é a ordem sobre terem filhas mulheres, não é meu senhor? – insitou, Jamal.
Amin, o Sultão, furioso, levantou-se
imediatamente de seu trono, não acreditava no que Jamal lhe contara, para ele
isso era mais que um ultrage, e gritando questionou:
- você tem
certeza, era Aisha mesmo? Você disse... filhas? E era mesmo a casa do ferreiro?
– disparou em indagações.
- sim,
senhor, tenho certeza, ao que me parece devem ter uns cinco anos, e o senhor
mesmo me disse que fazia um bom tempo que o senhor não tinha mais notícias de Aisha.
– e as crianças se parecem muito com a mãe... assim que viram nossa chegada,
eles as esconderam e quem veio ao nosso encontro foi justamente Abner, o
ferreiro misterioso. Parecia desconfiado, mas, mesmo assim, só nos vendia
frieza no olhar e no modo de conduzir o pagamento de seus impostos...
Então, tomado por uma colera o Sultão gritou
aos quatro contos do palácio: “Sãooo minhasss filhasss, tragam-as para casaaaa,
eu as querooo!” – repasse essa ordem aos meus soldados.
- sim,
senhor, os informarei, imediatamente! – amedrontado, concordou o bajulador.
Os soldados de alta patente se reuniram para
traçar o plano, e decidiram entre eles que pegariam as gêmeas na tardezinha do
dia que o ferreiro viesse barganhar com o Sultão, suas armas – era óbvio que
evitariam ao máximo um possível confronto com o ferreiro, exímio e hábil
manipulador e manuseador de armas forjadas.
Era uma tardezinha gelada quando chegaram em
Nazaré e abordaram Aisha, as gêmeas dormiam, como mandava a tradição daquele
lar. Dois golpes de faca perfuraram o abdômen da moça, que mesmo ferida, ainda
se arrastou até a porta de entrada:
- meus
be-bês por fa-vor... não os ti-rem... – a força lhe faltou, o sangue, que
circulava normalmente, viu na ferida uma saída para seu ‘fluxo sem fim’, assim,
a moça foi ficando bem fraca.
- morra sua
traidoraaaa! – disse Jamal à moça que aparentava estar realmente próximo do seu
fim.
As gêmeas foram levadas por uma trilha
diferente da comum, não queriam nem de perto esbarrar com o ferreiro, que
sempre andava na companhia de uma bela espada e mais algumas armas, feitas, também,
do metal. Mesmo a caravana estão com um total de doze homens, sendo que destes,
oito eram soldados e guardas do Sultão.
Aisha, quase desfalecendo, viu a caravana que
levava suas filhas, diminuir no horizonte. Ela reuniu suas últimas forças e se
arrastou até pegar um pedaço de pano e forçá-lo contra suas feridas, então, por
algum tempo se desligou do mundo dos vivos.
Abner, com habilidade de caçador, notou já
próximo de sua casa, pegadas do que parecia um pequeno comboio, lembrou logo da
postura diferente do tesoureiro do Sultão que fazia muitas perguntas que não
eram pertinentes aos assuntos políticos e econômicos. Assim, apertou as rédeas
e ganhou tempo na cavalgada, já em suas terras, avistou, o que parecia ser
alguém no chão.
- é Aisha,
meu Deus, o que aconteceu? – se perguntou.
- Aisha,
acorde, meu amor... você está ferida... e as crianças, o que houve? –olhando
para dentro de casa, viu a mobilia quebrada e notou que as crianças não
estavam.
Com muito cuidado, carregou, no colo, sua jovem
esposa, Aisha, desmaiada. Começou, imediatamente a tratar suas feridas, fez
curativos com ervas e colocou-os na região afetada pelos golpes, molhou o rosto
de sua esposa, que foi aos poucos recobrando os sentidos.
- o que
houve aqui, Aisha, porque está ferida e onde estão nossas filhas? Perguntou,
entre a fúria, a loucura e a dor no peito.
- as
levaram, Isa e Iasmin. Abner, eles levaram nossas crianças, nos descobriram,
pareciam guardas do Sultão, não tenho certeza, mas, também, não acho que sejam
cruzados, ladrões ou mercenários!
Então, após mais alguns cuidados com sua esposa
que talvez não correce mais o perigo de perder sua vida, o ferreiro a deixou
deitada e apanhou mais algumas armas, vestiu novamente seu capuz e montou em
seu cavalo, o destino, novamente, Tel aviv, mas o misterioso ferreiro, dessa
vez não iria barganhar, iria em busca de suas filhas!
- viram um
casal de gêmeas passando por aqui, talvez em um combio? – viram duas crianças,
gêmeas, cinco anos... por aqui hoje? – tentou de tudo e ninguém lhe respondia
positivamente, não hávia nem rastro das gêmeas, tudo fora muito bem calculado
para ficar oculto das pessoas e no alvoroço do comércio, tudo o que querem é
vender e comprar, apenas isso, talvez não notassem mesmo. As gêmeas passaram
escondidas em uma carroagem comum naqueles dias, foram levadas direto para a
torre norte! Lá ficariam sob os cuidados da mãe de Amin e um pequeno seleto
grupo de cuidadores de confiança do Sultão, começava naquele momento o drama
das meninas de apenas cinco anos, que não conheciam nada diferente do amor dos
pais. Também, começava o ato insano do Sultão, Amin, em capturar mais algumas
irmãs para as gêmeas.
Os anos foram passando e Abner não desvendava o
mistério do sequestro de suas duas filhas. Após passados quatro anos o
ferreiro, que, sozinho investigava o paradeiro das meninas, conheceu outros
seis homens que também tiveram suas filhas sequestradas, estes já haviam
descobrido que fora o Sultão que as levara. Abner que há pouco tempo atrás
conhecera uma mulher que trabalhava no palácio, vinha obtendo algumas respostas
sobre o paradeiro das gêmeas, e no último encontro que teve com a jovem
senhora, ouviu dela, o que mais desejava ouvir:
- Abner, tenho
ótimas notícias para você! – Na torre Norte do palácio, vivem um casal de gêmeas,
talvez seja as que você tanto procurou. – disse a mulher de nome Zara.
- ótima
notícia, agradeço pela coragem e lealdade, Zara, sabe me dizer se estão bem, se
tem mais alguém com elas... como vivem...? – Abner tinha tantas perguntas.
- Por nada,
amigo, sei da sua dor, e, conhecendo Aisha, sei ainda mais da dor dela... - na
torre norte, vive as gêmeas e mais algumas outras meninas, são todas vigiadas
por seguranças, que ficam do lado de fora dos portões da torre. As garotas
vivem sob os cuidados da mãe do Sultão – Malika – sei que elas não admiram nem
reconhecem o Sultão, Amin, como pai, sabem que suas famílias verdadeiras estão
do lado de fora dos portões do palácio. – informou, Zara, correndo sérios
riscos por isso.
- não sei como
agradecer, muito obrigado por tudo que tem feito por nós, agora é chegado a
hora de trazer as crianças para casa. – Abner, correu para casa, em Nazaré,
para informar Aisha.
Os dois, por todos esses quatro anos, ficaram
desolados, cada um carregando suas feridas, Aisha, há pouco perdera uma filha,
Abner, não revelava o ‘nome’ de sua dor. Eram como areia levada pelo vento no
deserto, se arrastaram pela areia do tempo, carregando cicatrizes, mas, mesmo
quando não cabe ao momento o fogo ou o ardor da paixão, o amor verdadeiro
guarda e abre espaço ao respeito, ao companheirismo. O ferreiro e sua bela
esposa, por tantas e tantas noites sentaram-se juntos em seu quintal se
perguntando como estariam as meninas, onde estariam, por qual razão fizeram
isso com elas, Abner contava se tinha ou não, novidades sobre o paradeiro das
gêmeas...
- Aisha,
elas vivem! Elas estão vivas, meu amor. Nossas filhas estão na torre norte do
palácio do Sultão, Amin! - abraçando-a
forte, deu a melhor notícia que Aisha podia receber em tantos anos.
- Deus,
vive e é maravilhoso! Você as viu, elas estão bem, como sabe disso? – agora era
aisha quem tinha muitas perguntas.
- Lembra
que eu hávia comentado sobre Zara, uma mulher que disse se lembrar de você na
epoca que vivia no palácio?
- sim,
claro!
- Ela, foi
quem me trouxe as notícias! – Abner estava feliz, mas como sempre não
demonstrava muito seus sentimentos, assim, sua expressão, quase a todo momento
era mais de firmeza do que de alegria.
- você vai
fazer o que, não está pensando em ir lá sozinho, está? – sabe que amo muito
nossas filhas, mas, entrar nos aposentos do palácio sem ser convidado é pedir
para não sair vivo, e não suportarei isso, nossas filhas... você... por favor,
considere bem o que fará e como fará, meu amor! – aconselhou, Aisha, já sabendo
que Abner iria em busca das filhas.
- nunca
tirei nada de ninguém, Aisha, meu amor, mas, ao contrário, tiraram tudo de
mim... por um periodo de tempo... mas esse tempo acabou. Trarei de volta nossas
filhas, Isa e Iasmin, dormirão novamente
em seus braços!
O ferreiro foi a procura de alguns homens, com
quem falara até com certa frequência, sobre o sequestro de suas filhas, esses
homens, também tiveram suas crianças raptadas de maneira, até então misteriosa.
Eram homens, aparentemente comuns, porém, acho que o destino quisera aprontar
para o sultão – pois estes já possuíam certas habilidades – além de cada um
deles, agora, carregar o maior motivo para se juntarem ao ferreiro em seu
plano:
-se vocês
toparem, treino vocês com a espada, o arco, com lança... basta que queiram,
queiram, ainda ver suas filhas! – após explicar o plano, o ferreiro mostrou que
estava ao lado deles, se oferecendo para treiná-los e encorajando-os na missão
de resgate das filhas.
- quanto
tempo acha que precisamos para conseguir resgatar as meninas? – perguntou
Hassan, que parecia ser o mais adiantado em qualidades de combate.
- vamos
acompanhar toda a rotina ao redor do palácio por três meses, teremos ‘um’
informante lá dentro... Observaremos os guardas, as caravanas... o entra e sai,
tudo. E, em paralelo a isso, teremos o treinamento corpóreo e de combate, o que
não parece ser nenhum problema para vocês ao que percebo. – completou, Abner,
já mostrando ser o líder.
- estamos
de acordo – terminou de virar seu copo, Kalil parecia carregar muita magoa em
seu peito.
- sim,
estou contigo – estendeu a mão ao ferreiro, Omar, o mais jovem.
- ótimo,
nos vemos amanhã no começo do dia, em frente ao porão do outro lado da rua -
estavam em um local adaptado à servir vinho e porções aos comerciantes.
Por dias, observaram os velhos hábitos dos
soldados, guardas e funcionários, não fora difícil para Abner encontrar um
padrão.
- todo dia
às sete, os guardas abrem os portões, soldados saem em comboio... só voltam
duas horas depois, esse é o primeiro padrão, o segundo; recebem alimentos no
portão leste todos os dias, duas vezes por dia. O terceiro e mais importante;
uma carruagem sai uma vez por dia, do portão norte, parece levar, algo ou
alguém importante, pois são escoltados por oito homens do Sultão, voltam em
pouco mais de trinta minutos. – esclareceu, o ferreiro.
- só o que
temos que fazer é escolher em qual desses eventos nos convidaremos a
participar. – se adiantou Caled, mostrando que ‘já estava pronto’.
Omar era mesmo mais ‘adiantado’ que os outros
cinco homens, era de aparência jovial, tinha um metro e setenta e oito, magro,
rosto fino de cor parda, sua maior habilidade era a agilidade, ágil feito gato,
se mostrara bom em escaladas e, também, corria feito um tigre. Já Hassan se
mostrara bom no arco, -ele já atirara flechas desde sua infância - após dois
meses de treinamento intensivo, utilizando as técnicas do ferreiro, já atirava
melhor que todos da guarda do Sultão, Amin, era, também, magro, mas não tão
alto feito, Omar, era o mais calculista de todos. Entre o seleto grupo tinha,
Kalil que tornou-se, ainda mais, um ótimo combatente com a espada, mais sério
que os demais, sabia muito bem intimidar seu adversário. Caled, revelou-se bom,
atirando lanças, tinha muita força nos braços e pernas longas, quando disparava
uma lança, a mesma, voava por muitos metros, antes de acertar seu alvo. A
confiança era sua aliada. Por último, no grupo havia Ademir, uma montanha de
músculos, tinha seus quase dois metros e carregava consigo seus pouco mais de
cento e trinta quilos. Suas qualidades eram obviamente os confrontos físicos, a
força de suas mãos era como a de um leão, se apertasse o pescoço de um
oponente, seria o fim do homem, mas por incrível que pareça, punhos de pedra
era o mais brincalhão de todos, vivia contando piadas gostava de fazer os
amigos darem risadas, dividia sua vida entre o riso e raiva pelo
desaparecimento da filha. Estes homens tinham em comum o sequestro de suas
filhas, viviam em bares, na noite ou por algum canto... sempre, ‘rumando sem
rumo’ os que ainda tinham esposas, viviam como Abner, numa tormenta sem fim,
alguns outros, escolheram a bebedeira, enquanto um deles escolhera a solidão,
já que não tinha mais sua esposa, este era Hassan, o arqueiro calculista. Mas
agora estavam juntos, o oriente costumava achar o ferreiro um mistério, que
diria agora daquele ‘bando desconhecido?’
No palácio, Zara, que passara a servir
refeições na torre norte, passou, também, a ter contato com todas as meninas,
aos poucos foi ganhando a confiança delas, e discretamente, atualizava as mais
velhas e mais maduras, sobre o que possivelmente aconteceria em breve.
- Sofia,
tenho notícias ‘da vida’ – era como tratavam os assuntos do outro lado das
paredes do palácio – virão ao encontro de vocês em breve – cochichou, Zara,
enquanto servia suco para duas moças.
- quem virá
ao nosso encontro, meu pai, Ademir? – despistou olhando para o outro lado, com
o copo na mão.
- sim, ele
e mais seis homens. Escolham as meninas mais preparadas para receber a notícia
e se organizem, caso consigam chegar até essa porta, vocês precisam estar
preparadas para facilitar a fuga de vocês, me entendem? – orientou a mulher,
enquanto fingia pegar algo no chão.
- mas é
muito perigoso? - Sofia se preocupou.
-sim, mas
são seus pais, são homens que prezam pela família, pela justiça e querem, na
pior das hipóteses, entregar vocês de volta às suas mães e lares – concluiu,
Zara, já se levantando – cuidem das mais novas!
As moças mais velhas estavam no alto de seus
dezoito anos, mas muitas das outras eram apenas, crianças, doze, treze, dez
anos, assim como as gêmeas. Dessa forma, toda vez que Malika – mãe do Sultão –
deixava o salão na torre norte, onde cuidava e passava o dia com a meninas, as
reféns que tinham contato com Zara, se reuniam para ‘preparar o terreno’ para o
resgate...
Passados os cerca de cem dias de treinamento,
observação e informações vindo de dentro do palácio, os homens estavam prontos,
iriam por seu plano em prática. Era chegada a hora de trazerem as crianças para
casa!
Na torre norte, Zara, já havia anunciado o
assalto, aquele era o dia de pais e filhas se olharem nos olhos, era o dia do
acerto de contas e o dia da queda de um império.
O sol não deu bom dia, uma nuvem de poeira
engolia o grande centro, vindo do deserto, comprava território a todo o
momento. Se imaginavam um assalto da ordem dos cavaleiros místicos ou fosse de
rebéldes ou inimigos territoriais, este viria na calada da noite... Mas não,
aqueles guerreiros escolheram o dia. E pela sua coragem, ganharam dos céus, um
presente, um dia sem sol, um dia de poeira, onde não se enxergava um palmo à
frente.
O clima no oriente não poderia ser melhor, já
que o plano de resgate das meninas, consistia em; tomar de assalto a caravana
das sete, usar dos seus homens para se passarem pelos soldados do palácio,
enquanto o ferreiro, - devidamente trajado com seu capuz, seu roupão, sua
espada e mais algumas armas – e o arqueiro – com sua capacidade surreal de
concentrar-se e disparar suas flechas apenas por ter ouvido sons em
determinadas direções. Todos, saltariam em combate somente dentro do palácio,
seria um ataque, a princípio, silencioso, pois quando os tiverem descobertos, o
ferreiro já queria estar às portas do Sultão, Hassan, o arqueiro; posicionado
próximo a torre norte, nesse momento, Ademir, punhos de pedra estaria esmagando
crânios com sua força sobre-humana. Caled, atiraria lanças nas costas dos
sentinelas que andam sobre os portões, e por fim, Kalil com sua espada, forjada
pelo melhor ferreiro do oriente, espetaria uma corja de homens covardes que
protegiam os acessos à torre norte. Enquanto o jovem Omar arrastaria uma
multidão de soldados, se pendurando, saltando e correndo na direção oposta...
por fim, era acordo, todos se encontrarem nos portões térreo da torre norte,
onde uns formariam a barreira de combate; escudos, flechas e lanças... escudos,
flechas e lanças... esse sistema de combate, junto a poeira que cobria à todos,
daria tempo para Ademir punhos de pedra, Kalil com sua espada mística e o
ferreiro, - que a essa altura já estaria com o sangue de Amin, o Sultão em suas
mãos - entrarem na sala onde as meninas eram mantidas reféns por pouco mais de
cinco anos, e as resgatassem, saindo, todos, em seguida, assim como entraram,
pelo portão da frente, com a audácia de falarem que a caravana que parte é sim
a retirada das meninas, mas, agora ‘por ordem do sultão’. Malika - sem que os
guardas percebam que está feita réfem, dará a ‘ordem do filho’... assim, os
homens, vestidos de soldados saíram ‘ilesos’
E pouco fugiu disso... Tomaram de assalto a
caravana das sete e o curso dos eventos foi se desencadeando perfeitamente...
Hassan, o arqueiro, já posicionado, começou sua saga, era rápido em atirar
flechas e mais rápido, ainda, em não revelar sua posição, juntamente com Caled,
o disparador de lanças, eram perfeitos em acertar seus alvos, assim davam
cobertura para o ferreiro, que invadia o palácio, escalando feito primata da
selva, queria chegar o mais próximo possível sem chamar a atenção para
conflitos armados.
Entrou no gigante palácio às portas do Sultão,
Amin, e como já era esperado um exército protegia o tirano. Abner empunhou suas
duas espadas; eram ‘as gêmeas’ forjadas de uma liga nobre de metais, cada uma
delas carregava gravada o nome das meninas; Isa e Iasmin. Havia, também, mais
algumas inscrições; Aída, a filha de Aisha, sua esposa e outro nome que fora
gravado propositalmente em mandarim, para que ‘ninguém’ soubesse seu
significado. O ferreiro pousou da janela fazendo frente ao exército do Sultão,
encapuzado e com ‘trajes medievais’ fez tremer a tropa inimiga quando levantou
sua cabeça, revelando parcialmente sua identidade.
- é o
ferreiro misterioso?! – olhando para o soldado ao lado, sugeriu, um jovem
guarda.
- não, acho
que não, o que o ferreiro iria fazer aqui, às portas do sultão, Amin, entrando
assim pela janela? – confuso, o soldado não soube responder.
- mas eu
sei! – e só há um jeito de sair com vida daqui...
- do que
está falando, pare de loucura e tome sua posição – apontando sua espada para o
inimigo ‘misterioso’ deu a ordem! Mas o jovem soldado não titubeou em abandonar
sua posição e correr. Era um jovem que acabara de ser treinado para as fileiras
combatentes, mas o que queria mesmo era impressionar a sobrinha do Sultão, com
quem vinha tenho às escondidas nos corredores do palácio. Sabendo do cárcere
das meninas, soube, também, que o ferreiro mataria todos que entrasse em seu
caminho, por essa razão escolheu viver.
- façam
como aquele jovem e escolham a vida, caso o contrário a morte os aguarda – suas
espadas gritaram nesse momento pelo fato do ferreiro as terem sobrepassado, uma
na outra. Abner disparou no grande corredor, o mármore por debaixo dos seus pés
refletia o brilho do ouro e da prata dos objetos que adornavam o palácio, sua
imagem também era modelada pela intensidade do verniz...
...
No pátio, a nuvem de poeira comprava todos os
lugares abertos e Ademir, punhos de pedra, sorria para os soldados que viam, às
cegas, em sua direção, socava com a força de um búfalo, quando não derrubava o oponente
por socá-lo na face, o fazia, por golpeá-lo na barriga, lhe tirando por
completo o ar. A batalha parecia lhe fazer bem, punhos de pedra, sorria e
gritava, despejando fúria nos homens do sultão. E gargalhando com a iminente
vitória e possibilidade de reencontro com a filha. Punhos de pedra fazia
justíca ao seu nome, ademir – Homem feito de ferro.
Kalil, duelava com sua espada, era rápido e
ágil, - além da sua misteriosa origem, fora muito bem treinado pelo ferreiro -,
combateu às forças de Amin, o sultão lado a lado com Caled, e suas lanças
afiadas, os dois, juntos, um de costas para o outro, ficavam alternando golpes,
enquanto a lança espetava algum soldado, a espada protegia, giravam e se
esquivavam, pareciam sentir-se realizados com o feito.
...
- começou,
meninas, eles estão lá fora e a qualquer momento estourarão as correntes do
cárcere de vocês, logo, em breve, estarão com suas famílias – fingindo arrumar
uma das camas xxxx, à garota mais velha.
- avisarei
as meninas para que fiquem atentas, já sabem o que devem fazer. Respondeu
baixinho Ana – a graciosa - que era filha do arqueiro.
Imediatamente Malika entrou no aposento,
gritando com as meninas:
- recolham
suas roupas, juntem tudo o que couber na mala que os soldados entregarão à
vocês, façam isso o mais rápido possível, em breve partiremos.
- Senhora,
o que está acontecendo lá fora – fingiu não saber, Ana, a filha do arqueiro,
perguntando.
- nada que
meu filho não resolva! – disparou Malika. – vamos, aprecem-se em arrumar as
malas, você, também.
...
O mármore, perfeitamente liso, parecia ter cido
posto ali, para que o ferreiro deslizasse sobre ele, no duelo com o exército do
Sultão, Amin. Com suas duas espadas empunhadas, ele, ao se aproximar dos
soldados, deixou seu corpo escorregar, cortando, assim, as pernas dos primeiros
guardas, logo em seguida defendeu um ataque vindo de cima, com uma das espadas
e girou para se levantar, o ferreiro não tinha escolha e a carnificina começou.
Uma lança foi disparada na direção de Abner, que, com maestria desviou em cima,
cortando-a com uma de suas espadas, em poucos minutos o exército veio ao chão,
e pouco antes de golpear o último soldado o Sultão surgiu, as portas da sala
onde estava se abriram, tornando visível, o homem que vieram matar e mais dois
capangas. Amin estava de posse de sua espada, sabia usá-la muito bem, tinha
treinamento toda manhã e por ironia ou não sua espada fora forjada pelo
ferreiro, Abner. Era cumprida e recebera a cor do ouro, sua liga metálica era
das mais nobres possíveis, seu cabo era de uma mistura de ossos de animais
selvagens, caçados por seu pai.
- ora se
não é o misterioso ferreiro, quem me visita hoje, ao que vejo já foi apresentado
aos meus imprestáveis soldados – espetou no peito, um guarda que agonizava. – a
que lhe devo a honra, Abner? – perguntou ironizando.
- busco o
que é meu por direito, você sabe do que eu falo – firme, o ferreiro intimou,
Amin.
- não me
recordo de nada que tenha deixado em meu palácio – sorrindo, tirou a espada do
peito do homem, que a pouco agonizava. – espera, você não está falando... então
vocês vieram buscar... genial, então quem são aqueles lá fora, deixe-me ver...
o pai De Ana qual é... o arqueiro Hassan, por um acaso... que esses
imprestáveis ainda não perceberam que está no telhado próximo a torre norte?...
e aquele lá embaixo que parece um búfalo... também se diz pai de alguma das
minhaaass filhasss, talvez de... Sofia, quem sabe? – indagava o Sultão, já com
um ar de quem estava beirando a loucura e o sarcasmo.
- ouvi
boatos de que o Sultão havia surtado, tinha ficado louco, hoje vejo que não é
apenas boato. E, sim, estamos aqui para levar nossas crianças para casa, para
seus lares e para suas mães. Soube que nem mesmo em cinco anos você não
conseguiu ter o amor delas, passaria uma vida e você não o teria. Isso tem um
nome... Justiça!!! O ferreiro cruzou suas espadas e correu, Amin, furioso,
ordenou aos capangas o ataque.
Não deu nem tempo do Sultão pensar direito e os
dois guardas já estavam no chão, Abner, saltou num golpe giratório e pousou com
sua espada no pescoço de um deles, enquanto o outro o atacou, Abner, defendendo
com uma espada, tirou a outra do pescoço do soldado, já ferindo fatalmente o
inimigo com um grande corte na barriga.
- ao que
parece somos só nós dois, ferreiro – desdenhou da situação, ainda aparentando
um ser insano. – reconhece essa espada, Abner, foi você quem forjou, se lembra?
Se lembra, também, de como ela é forte, afiada e resistente? Hoje você vai cair pela espada que forjou
para o seu algoz.
- só o que
cairá hoje, será o seu império, o império da injustiça virá ao chão, junto do
seu líder. – agora quem irá falar são as nossas espadas. - Concluiu.
E assim se deu, o ferreiro dominava sua espada
e o Sultão não deixava por menos, os dois giravam, saltavam, corriam e
deslizavam. O salão ficara pequeno para o combate. As espadas soltavam lascas
de metal, gritavam ao contato entre elas. Uma hora o ferreiro levava vantagem,
em outros momentos, o Sultão. Mas, em dado momento a justiça ‘viera’ ter com Abner,
o ferreiro e o beijara no rosto, assim, defendeu-se de um ataque forte do
Sultão, cruzando suas espadas e tendo a de Amin, forçando para baixo, tentando
a todo custo descer sobre sua cabeça e parti-la ao meio... O ferreiro
concentrou sua força na defesa, agachado, lembrou-se das gêmeas, estava a
alguns poucos minutos de vê-las novamente, então, reuniu forças e numa explosão
de energia, findou sua defesa, jogando com toda a sua força a espada do Sultão
para longe de sua cabeça, descruzando ‘as gêmeas’ que segurava a força do golpe
de Amin. Enquanto o Sultão se impressionava com a força do ferreiro, observava
sua espada voar para longe e antes mesmo de tentar buscá-la, o ferreiro espetou
suas entranhas com suas duas espadas, que traspassaram carne e ossos. Era o fim
do tirano, que cuspia sangue pela boca.
- durma o
sono dos injustos! – Abner, o ferreiro, tirou suas espadas sujas de sangue das
entranhas do inimigo. Era hora de ir ao encontro de suas filhas na torre norte.
...
Lá embaixo, tudo como fora planejado, todos já
estavam às portas da torre norte quando Abner chegou trazendo consigo a espada
de Amin, o Sultão. Os homens já haviam derrubado todos os guardas daquela torre,
agora só faltavam derrubaram... as portas! O ferreiro olhou para punhos de
pedra:
- agora é
com você – acenou, indicando a missão do amigo, que mais parecia uma montanha
de músculos.
Punhos de pedra correu o máximo que pôde e
quando se chocou contra os portões de madeira, estes, pareciam tecidos quando
se rasgam facilmente, não foram capazes de parar o homem de dois metros de
altura e seus cento e trinta quilos.
Os quatro soldados que guardavam Malika se
refrearam ao ver na mão do ferreiro a espada do sultão.
- as
crianças não precisam ver isso... – levou a mão a uma de suas espadas, o
ferreiro.
Os guardas entenderam o recado, jogaram suas
armas no chão e se entregaram. Malika, ao ver a espada do filho se entregou as
lágrimas e percebeu que o império do filho tinha caído por terra.
Abner fitou os olhos em suas filhas –
completariam dez anos -, o homem que acabara de matar um exército e seu líder,
viu-se sem forças, encontrara o mais forte dos adversários; a emoção do
reencontro.
- Isa...
Iasmin... – faltaram palavras ao homem.
- papaiiii,
o senhor veio nos buscar, eu sabiaaaa!
- filhas,
vocês estão lindas, como cresceram, amo vocês. Senti tanta saudade – Abner estava anestesiado de boas emoções ao
rever as gêmeas após cinco anos.
- venham,
vamos para casa, sua mãe nos aguarda! – emocionado, o ferreiro estava encantado
com a beleza de suas filhas, que puxara os traços da mãe.
Por todos os lados a emoção estava presente e
até mesmo punhos de pedra se rendera às lágrimas, apertava a filha parecendo
que ia sufocá-la, mas conseguia controlar sua euforia, saudade e emoção,
girava-a ainda apertando a garota, não parava de beijar sua filha, Sofia. Parecia
uma criança, frente a um doce. Os outros cavaleiros já estavam todos prontos,
assim foram descendo as escadas em caracol, os acessos eram iluminados pelo
fogo que vinha das tochas oleosas. Não sabiam o que os aguardavam a cada novo
lance de escada, suas sombras disformes na parece, trazia um ar ainda mais místico
ao cenário. As meninas estavam apavoradas, mas no fundo todas tinham a sensação
de estarem no lugar mais seguro do mundo... nos ‘braços’dos pais. Malika,
também descia as escadas, só que feita refém pelos cavaleiros.
A ordem dos cavaleiros místicos ‘concluíra’ sua
missão, estavam voltando, levando as crianças para casa.
...
Mas o destino não quis jogar conforme ‘todas’
as regras do ferreiro, e ‘deu ao Sultão’ um último golpe de misericórdia
através do seu jovem arqueiro, que selava um cavalo para viajar com uma
caravana quando percebeu o alvoroço. Subiu, foi direto para o salão principal
onde se encontrava seu amo, e após vê-lo afogando em sangue, ainda cumpriu uma
última ordem:
- Meu
senhor, está muito ferido – Raed, o arqueiro, encontrou seu amo deitado, já desfalecendo.
- minha
últi-ma or-dem... ma-te o ferrei-ro... – o Sultão morreu dando essa ordem ao
seu exímio atirador de flechas.
O jovem não vacilou, correu, subiu até a parte
mais alta do palácio, havia um sino no local, percebeu parcialmente uma
movimentação – a nuvem de poeira ia e vinha em massa densa, prejudicava a visão;
uma caravana parecia se aprontar para sair da torre norte... escolheu bem a
flecha que usaria, deixou tudo pronto para o disparo, balançou a cabeça para os
dois lado, parecia querer aliviar um pouco da tensão, fez uns poucos movimentos
com o nariz e boca – parecia, agora, querer aliviar uma pequena coceira no
rosto, franziu a testa e aguardou... só havia uma pequena fresta de espaço
entre o portão térreo da torre norte e o acesso à carruagem, onde estavam
entrando as meninas, Malika – que seria usada para passarem pelos portões de
entrada – e os cavaleiros. O jovem percebeu pela movimentação que o homem
encapuzado era o líder, sim, era o ferreiro que estava na mira do jovem arqueiro,
seu alvo estava surgindo livre de maneira intermitente, sendo às vezes coberto
por punhos de pedra, que ajudava ali.
- vamos lá,
não posso desapontar meu amo... Amin, essa é por você... – disparou sua flecha
com toda força e precisão possível, e antes mesmo da flecha tocar seu alvo,
disparou mais uma e mais uma!
As três pontas de aço desceram, rasgando a
nuvem de poeira, feito o significado do seu dono – Raed ‘trovão’ – rapidamente
encontraram um lugar para pousarem.
A primeira encontrou ‘sua missão’ e acertou em
cheio Abner, o ferreiro.
A segunda descansou no dorso do gigante Ademir,
punhos de pedra.
E a terceira rasgou a carne de Caled, o atirador
de lanças.
- Flechasssss
– tentou avisar, milésimos de segundos antes de elas tocarem seus alvos, o arqueiro,
Hassan.
Rápido, o atirador de flechas dos cavaleiros
localizou, pela posição da flecha cravada, e pelo som, de onde tinham vindo os
disparos, posicionou seu arco, mirou para cima, sem ver nada, devido a densa
nuvem de poeira, respirou fundo, como quem procurava às cegas um ponto de
referência e... soltou...
Lá em cima, na torre do sino, o também arqueiro
do Sultão - Raed - preparava-se para terminar sua missão, então, quando
posicionou sua flecha na mesma direção dos disparos anteriores...
Apenas um arqueiro obteve êxito – tudo fora
muito rápido – em questão de segundos esse combate às escuras chegara ao fim.
O atirador de flechas do Sultão despencara de
uma altura de mais de trinta metros, a flecha de Hassan, do arqueiro dos
cavaleiros da ordem mística, acertara em cheio a testa do jovem súdito de Amin,
enquanto este estava prestes a atirar mais uma vez. Com o abatimento do inimigo,
as atenções, rapidamente voltaram-se aos cavaleiros feridos. As meninas
gritavam apavoradas. Mesmo ferido nas costas, Ademir, punhos de pedra, colocou
o ferreiro, desacordado na carruagem, enquanto os outros carregavam Caled, o
atirador de lanças.
Correram em direção aos portões, a essa altura
alguns soldados já sabiam da morte do Sultão, outros tentavam entender o assalto
e muitos estavam mortos.
- abram os
portões ordenou Kalil, com sua espada tocando o pescoço de Malika – que agora
era a imagem da liderança do povo – abram, agoraaaa, ou mato ela. E não nos
sigam pelo caminho – apertava um pouco mais a espada, Kalil.
Os soldados, sem muitos dos seus lideres,
obedeceram às ordens e; abriram os portões e não seguiram a carruagem.
Malika seria deixada no deserto cerca de uma
hora depois.
Na carruagem, punhos de pedra tirou, ele,
mesmo, a lança que estava fincada em suas costas, graças a sua carcaça mais
robusta, a ferida, mesmo que profunda, não lhe causaria a morte. Caled o
atirador de lanças, mais tarde viria a perder seu braço, a flecha acertara
exatamente a junção entre ombro e braço, rompendo ligamentos e rasgando fibras,
tornando irreparável o dano causado.
O problema maior vinha sendo com Abner, o
ferreiro, que ainda estava desacordado, sua ferida era profunda, próximo a
clavícula, a flecha traspassara a carne, também, próximo do coração.
- papai,
papai, acorde, por favor – as gêmeas se alternavam em tentar acordá-lo.
- papai o
senhor está realmente bem, deixe-me ver essa ferida – falava, Sofia, para seu
pai, punhos de pedra, enquanto, Helena, também se preocupava com seu pai, Caled,
ferido ao seu lado.
- estamos
chegando, aguente firme, meu amigo, aguente firme – com a mão no peito do
ferreiro, ‘o frio e calculista’ Hassan torcia pela recuperação do amigo.
Aisha, de longe avistou a poeira que subia da
estrada de terra, sentira em seu coração que sua família estava chegando, tinha
fé que tudo seria como antes; ela, o ferreiro e as gêmeas.
- corram
levem ele para dentro da casa – disse Hassan.
- Abner,
meu amor... o que houve com ele...? – preocupou-se Aisha, que chorou ainda mais
ao ver suas filhas descerem da carruagem. – filhassss, vocês estão lindasss!!!
– e chorava e chorava... – o que houve com seu pai...?
- fomos
atacados por um arqueiro, temos ao todo três feridos e Abner está desacordado a
quase duas horas – disse Hassan.
Colocaram o ferreiro deitado em sua cama,
trataram do ferimento do punhos de pedra, e tentaram ao máximo cuidar do
ferimento de Caled, mas era visível a gravidade. As meninas, todas elas, se
espalharam pela casa, abraçavam seus pais, trocavam sorrisos e lágrimas com
eles... as gêmeas se dividiam em chorar pelo pai, se abraçarem à mãe e olharem
constantemente para todos os detalhes da casa. Lá fora era visível o balanço,
que na ausência delas só servia para os pássaros, que uma ou outra vez,
pousavam ali.
- ele, mais
que todos nós queria trazer as crianças de volta, todos nós queríamos, é claro,
mas, não sei, ele parecia querer mais... seu senso de justiça é fora do
comum... suas habilidades, sua liderança, um homem carregado de mistérios, mas
também cheio de boas intenções. – lamentava, Kalil, ao lado do amigo.
- acho bom
que façamos o seguinte, de dois em dois, vão e busquem suas famílias, esposas e
filhos, enquanto Abner estiver desacordado protegeremos nossas famílias, mas
também protegeremos a dele, tudo bem pra vocês? – planejou Hassan, que parecia
sentir-se o mais próximo de Abner. Todos concordaram. A casa era realmente
grande, receberia a todos.
Assim se deu, rapidamente a casa de Abner fora
tomada por belos reencontros, sorrisos e afagos, uma pena que o destino ainda
não ficara de bem do ferreiro... Aisha tratou diariamente das feridas do
marido, lavou, trocou curativo, drenou... de tudo fazia mas Abner já estava
‘desacordado’ por dias dias, respirava com muita dificuldade mas não reagia.
Passados alguns dias, Isa e Iasmin brincavam na balança, junto às outras
meninas e meninos, decidiram, então, como de rotina ir ver o pai, quando
chegaram no quarto lá estava Aisha, cuidando de seu esposo, juntas as três
começaram a conversar:
- filhas
vocês se tornaram duas mocinhas lindas, lembram de quando brincavam no balanço
com o papai? - Acariciando seu marido no rosto, perguntou às filhas.
- sim,
mamãe, eu me lembro de brincar no balanço – disse Isa
- me lembro
de quando papai brincava de luta com a gente, nossas espadas de madeira... – Iasmin
tocava o rosto do pai enquanto falava com a mãe.
- sentimos
tanto a falta de vocês, agora nossa família está... com-ple-ta – não tinha mais
forças para falar, Aisha, que mais uma vez chorava sobre o corpo de Abner.
- não chora
mamãe, nosso papai só está descansando um pouco, porque foi muito difícil
buscar a gente – disse Isa com a inocência genuína das crianças.
- castanhos...
eu não me lembrava!
- o que
mamãe? – o que a senhora disse?
-
castanhos. Os olhos de vocês são castanhos avermelhados, assim como os olhos do
papai, meninas! – chorando, completou, Aisha.
...
Abner, mesmo inconsciente, distante da vida
ativa, derramou lágrimas, parecia ouvir tudo sem poder reagir... parecia! Dos
seus olhos escorreram, ligeiramente, duas lágrimas, uma em cada canto do olho;
Talvez, estas representassem suas lindas filhas...
‘AS GÊMEAS DA TORRE NORTE’!
Fim
Epílogo
O ferreiro cumpriu sua missão!
...
Daquele feito heroico em diante, suas lindas
filhas dormiriam nos braços de sua bela mãe, Aisha. Pois é assim que tem de
ser, filhos e pais no mesmo ninho.
...
Abner pôde novamente ver suas filhas, olhar nos
olhos de suas crianças, pôde beijá-las com o amor mais puro do mundo.
...
Teve a chance do último abraço, último beijo e
do último olhar, talvez, todos esses elementos – encontros e despedidas -tenha
lhe trazido paz, antes de ter fechado seus olhos... talvez!
...
...
Segundo
milénio d.C. Ano 1225
Israel -
Jaffa - hoje incorporada a Tel Aviv.
“Curvem-se perante vossa magestade...” assim,
anos depois, o povo da capital saudava sua nova Rainha, Malika. Esta, sim,
tinha; não só a audácia de afrontar os cavaleiros da ordem mística, como,
também, tinha o maior dos motivos para isto: VINGANÇA!!!